Miguel Edgy Távora Arruda
Por: Miguel Edgy
Távora Arruda
Chegada do Cap.
Miguel de Arruda à Baturité
A República ainda não tem 2 anos; faz
apenas 3 que a escravatura foi abolida. Ë uma bela manhã de julho de
1891.
O Sol alto banha de intensa luz as
serras, os morros e os vales que circundam a cidadezinha pacata daquele começo
da última década do século. Os moradores do beco do Labirinto acorrem às
janelas para ver passar uma grande tropa de animais que, lentamente, vai
galgando a íngreme ladeira. À frente, montado num fogoso cavalo alazão, vem um
senhor de meia idade; 42 anos; esbelto; porte senhoril; farta cabeleira
castanha; olhos azuis; corado; a pele branca tostada pelo sol da longa
caminhada; fala suave; gestos comedidos. Seu nome: Miguel de
Arruda (Miguel Arcanjo de Araujo Costa Lopes de Aguiar Arruda) que,
anos depois, os netos chamariam: Pai Arruda.
A seu lado, também num belo cavalo, vem
sua mulher, Maria do Livramento (Maria do Livramento Bezerra de
Araujo Rodrigues de Vasconcelos Arruda) que os netos haveriam de chamar: Mãe
Mento. Seguem-se, numa liteira que 4 ex-escravos transportavam revezando-se,
sua sogra, Francisca Bezerra Rodrigues de Vasconcelos que os bisnetos chamariam
de Dindinha, e, em diversos animais de sela, duas de suas cunhadas: Antônia
Amélia e Maria Elisa, e sete de seus filhos: João, de 16 anos; Vicente, de 15;
José, de 14; Antônio, de 13; Jeremias, de 9; Ananias, de 5; e Maria Adelina, de
4. Vem ele de Santo Antônio do Aracati-Açu, Município de Sobral, onde se casara
e vivera até então.
A longa viagem durara 5 dias, passando
por Canindé, onde fora pagar uma promessa, e atravessando toda a Serra, via
Mulungu.
A menorzinha, Maria Adelina, vem na lua
da sela do cavalo do Zé Dias, escravo liberto de inteira confiança, e o
menorzinho, Ananias, vem no meio de uma carga, segurando, com mão firme, o
cabresto do animal, sob as vistas do mano mais velhinho, Jeremias, vigilante
para que nada aconteça ao irmãozinho menor.
A grande tropa de animais de sela e de
carga a que se juntam agregados, criados, serviçais, passo a passo, vai
entrando na cidade e despertando, aqui e acolá, a curiosidade dos poucos
transeuntes.
Por fim, para em frente a uma casa da
Rua Sete e Setembro
Apeiam-se todos e logo começa a azáfama
de descarregar os animais e acomodar tudo no novo lar: baús, caçuás, sacas e
pertences. E assim passa-se o dia que haveria de se transformar em um marco na
vida daquela família.
Chegando à Baturité, onde lhe haveriam
de nascer mais 3 filhos, Miguel de Arruda afeiçoa-se à cidade e a adota como
sua, transformando-a na terra de seus filhos, netos, bisnetos, trinetos e
tetranetos, mesmo que alguns deles nela não tivessem nascido ou não viessem a
nascer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário