Vídeo - Elegia ao Amor - Ananias Arruda e Donaninha
Elegia ao Amor - Ananias Arruda e Donaninha
Ananias Arruda e Donaninha Arruda 17/09/2021
Foi o cupido, sim, l’amour,
como chamam os franceses, quem flechou Ana e Ananias, em 1911, na casa
paroquial de Baturité, onde a bela adolescente passava as férias com seu tio, o
vigário Monsenhor Manoel Cândido dos Santos.
Do namoro ao casamento foram menos de dois meses e, em 17 de setembro de 1911, sob as bençãos dos familiares, o casal
de nubentes trocou juras de amor eterno, ao receber o sacramento do matrimônio,
oficializado por Manoel Cândido, o tio da noiva, na Matriz de Baturité.
Ele, Ananias Abnegado Vasconcelos
Arruda (1886-1980), um jovem fervoroso, valoroso e promissor, de 25 anos, e ela, Ana
Custodio dos Santos Arruda (1895-1941), uma bela, meiga e piedosa adolescente, de 16 anos,
selaram seus destinos para sempre.
Desnecessário dizer que foram felizes
durante quase 30 anos, quando a morte, a “Indesejada das gentes” ceifou a vida de Ana,
conhecida como Donaninha, à margem da estrada que liga Pacoti à Guaramiranga,
em um passeio domingueiro, ao lado de sua filha adotiva Rocivalda e de algumas
senhoras que, como elas, estavam hospedadas no Patronato Imaculada Conceição,
em Pacoti.
A causa de sua morte precoce, com
apenas 45 anos, foi um provável derrame cerebral. Ananias, que na ocasião era
prefeito de Baturité e se encontrava em Recife à trabalho, empreendeu uma longa
e tormentosa viagem de volta.
Foi grande a comoção dos baturiteenses, principalmente de Ananias que fez, diante do esquife de sua amada, juras de amor e fidelidade até o último dos seus dias.
Velório de Donaninha na
Capela de sua Residência, em Baturité, 20/01/1941
Confortado pela atenção e carinho das maiores autoridades civis e eclesiásticas do Ceará, de familiares, amigos e do povo de Baturité e outras localidades, Ananias acompanhou, sempre ao lado do caixão aberto, em procissão, o enterro de sua amada, passando pela antiga Igrejinha do Rosário, hoje demolida, para sepultá-la no Cemitério São Miguel, em Baturité.
Sepultamento de Donaninha, Baturité, 20/01/2021
A notícia da morte de Donaninha foi
manchete nos jornais de Fortaleza: “O Nordeste”, “O Estado” e o “Correio do
Ceará”. O Jornal “A verdade”, que tinha como diretor e editor-chefe Ananias
Arruda, dedicou um número inteiro à Donaninha, publicando sua biografia, sua
última carta dirigida ao marido e uma carta dele para ela escrita no 7º dia de
sua partida.
Mesmo
devastado com tamanha tragédia, Ananias subiu a serra e mandou construir um
pequeno monumento denominado “Monumento do amôr e da Dedicação”, no local onde
sua amada falecera, um monumento-cenotáfio.
A primeira página do jornal “A verdade” de 2 de fevereiro de 1941, traz uma foto do monumento com a seguinte descrição.
Jornal A Verdade de 02/02/1941
“O
nosso desolado redator Ananias Arruda, querendo render um tributo de amor e de
dedicação a sua mui querida e nunca esquecida consorte Donaninha Santos Arruda,
por Deus arrebatada ao Céu no dia 19 de janeiro último, na estrada de Pacoti
Guaramiranga, onde fazia um passeio matinal, em companhia de sua filhinha
Rocivalda e de outras pessoas. Apesar da desolação em que se acha, projetou e
erigiu domingo último, no local do inesperado transpasse de sua santa esposa um
belo e expressivo monumento que tem uma pequena coluna de alvenaria na qual foi
encravada uma cruz de valiosa madeira em cuja base tem uma artística floreira e
em sua haste está cravada uma moldura, envidraçada, vendo-se no alto uma imagem
da virgem, ao centro um retrato da saudosa Donaninha e embaixo uma fotografia
do desolado esposo com a seguinte dedicatória:
‘À querida e
inesquecível Donaninha, que deste lugar bendito, às 9h de domingo 19/01/1941
subiu inesperadamente ao Céu, onde goza a visão beatífica e contempla a Virgem
Imaculada Mãe de Deus, Tributo do amor e da dedicação de seu amargurado esposo
Ananias Arruda, que deste lugar sagrado e ao pé da Cruz Redentora, banhado em
abundantes lágrimas de cruciante saudade a contempla e pede a todos que por
aqui passarem uma prece para a maior glorificação de sua santa consorte – 26 de
janeiro de 1941’.
Na grande cruz está
pregado um precioso crucifixo da Terra Santa, lembrança de Jerusalém, adquirido
pelo nosso redator chefe, quando lá esteve em 1925, o qual, por ter sido tocado
no Santo Sepulcro e no calvário de Jesus, está enriquecido de inúmeras
indulgencias. Circundando a imagem do crucificado se vê uma bela e grande coroa
de flores artificiais da qual pendem duas faixas roxas com a inscrição: Eterna
saudade de seu esposo e filhos. O monumento está circundado por uma grade de
ferro e tem ao seu pé uma cruz de madeira homenagem do patronato Imaculada
Conceição de Pacoti”.
Capela de Sant"Ana – Saboeiro-CE
Inauguração
da Igreja de Jesus Crucificado Pacoti-CE - 19.01.1942
A missa da inauguração da “Capela de Donaninha” foi oficializada
pelo Arcebispo
Metropolitano de Fortaleza Dom Antônio de Almeida Lustosa e entrou para a história como uma das maiores solenidades religiosas
do Maciço de Baturité. Autoridades civis e eclesiásticas, diversas ordens
religiosas e centenas de
pessoas da região do maciço estiveram presentes. Dom Lustosa benzeu a Capela, as imagens dos
altares e o monumento do outro lado da estrada, que havia sido ampliado com
colunas e imagens de anjos.
Embaixo da parede anterior da capela foi afixada
uma placa de mármore com os seguintes dizeres:
“IGREJA DE
JESUS CRUCIFICADO, CONSTRUIDA POR ANANIAS ARRUDA, EM FRENTE AO LUGAR, ONDE NA
MANHÃ DE 19-1-1941, FOI CHAMADA AO SEIO DE DEUS SUBITA E INESPERADAMENTE, SUA
QUERIDA E INSEQUECÍVEL CONSORTE DONANINHA – ANA DOS SANTOS ARRUDA, SOLENEMENTE
BENTA E INAUGURADA EM 19-1-1942 PELO SR. ARCEBISPO METROPOLITANO D. ANTÔNIO
LUSTOSA, COM ASSISTENCIA DO ESPOSO, FILHOS, PAE, IRMÃOS, CUNHADOS, SOBRINHOS,
PRIMOS; DO INTERVENTOR MENEZES PIMENTEL, SECRETÁRIOS DE ESTADO, JESUITAS,
SALESIANOS, FRANCISCANAS, LAZARISTAS, IRMÃS DE CARIDADE, ASSOCIAÇÕES
RELIGIOZAS, IMPRENSA, GRANDE NÚMERO DE SACERDOTES, AUTORIDADES, FAMÍLIAS DE
PACOTI, BATURITÉ, FORTALEZA E SABOEIRO E GRANDE MASSA POPULAR, HAVENDO PREGAÇÃO
PREPARATÓRIA DE 3 DIAS, MISSAS, GRANDE NÚMERO DE COMUNHÕES E EXÉQUIAS DE 1º
ANIVERSÁRIO DE FALECIMENTO.
ANANIAS ARRUDA
PEDE A TODAS AS PESSOAS QUE VISITAREM ESTA IGREJA,
UMA PRECE A DEUS PELA MAIOR GLORIFICAÇÃO NO CEU DE SUA QUERIDA E INESQUECÍVEL
CONSORTE
DONANINHA DOS SANTOS ARRUDA”
Durante o dia inteiro da inauguração, várias missas
foram celebradas e assistidas por centenas de peregrinos vindos de Baturité em
sete caminhões, um ônibus e carros particulares.
Assim descrita no “Jornal a Verdade” da época, a capela de Donaninha está localizada à margem esquerda da estrada Pacoti-Guaramiranga, sobre uma barreira na altura de dois metros acima do nível da estrada foi idealizada e construída por Ananias Arruda, que administrou a obra a cargo do pedreiro Clovis de Barros. O acesso a mesma é feito por duas escadarias laterais. A torre foi desenhada por Orlando Luna Freire. A capela possui cinco altares. O principal é dedicado a Jesus Crucificado, possui vitrais em forma de cruz e imagens da Virgem Dolorosa, S. João Evangelista e Santa Madalena.
Interior da Igreja de Jesus Crucificado
(Capela Donaninha) - Altar Principal
Nas laterais estão os altares de Santo Inácio de
Loiola, santo do dia de nascimento de Donaninha e São Sebastião, santo do dia
de seu sepultamento. Mais dois pequenos altares são dedicados à São José,
padroeiro da boa morte e Sant’Ana, nome de Donaninha. Uma bela estátua do
Sagrado Coração de Jesus, construída pelos Irmãos Bernardini do Rio de Janeiro, encontra-se no pórtico da torre.
Em frente à capela, do outro lado da
estrada, local do falecimento de Donaninha, o antigo cruzeiro, reformado, tem uma
imagem de Cristo. Entre jardineiras encontram-se duas lápides. Na primeira, os
retratos de N. S. Auxiliadora, de Donaninha e de Ananias que eram envidraçados,
foram substituídos por porcelana, permanecendo os mesmos dizeres anteriores. Na
segunda, tem uma fotografia de Donaninha no leito mortuário com os seguintes
dizeres:
“Ana
dos Santos Arruda, saudosa consorte de Ananias Arruda. Nasceu em Saboeiro aos
31 de julho de 1895, casou-se em Baturité aos 17 de setembro de 1911 e faleceu
em Pacoti aos 19 de janeiro de 1941”.
Compondo esse
monumento-cenotáfio, quatro grandes colunas adornadas com anjos. No começo e no
fim das escadarias da Igreja estão outras quatro colunas também entre
jardineiras e adornadas com anjos.
A Igreja de Jesus
Crucificado, construída em terreno gentilmente cedido pelo Sr. Robert Gradvhool,
teve autorização oficial do Governo do Estado e aprovação do Sr. Arcebispo
Metropolitano.
Este belo e
histórico conjunto arquitetônico, composto pelo cenotáfio de um lado da
estrada, e da capela do lado oposto, apesar de tombado pelo Patrimônio Público
de Pacoti, precisa de manutenção constante.
As grandes provas de amor descritas na história são monumentos que
homens mandaram construir em memória de suas amadas. O mais famoso deles é Taj
Mahal, edificado entre 1632 e 1653, em Agra, na Índia, pelo imperador Shah
Jahan para a sua mulher preferida Mumtaz Mahal, que morrera ao dar à luz ao 14º
filho.
No Mosteiro de Alcobaça, em Portugal, Dom Pedro I (1320-1367) mandou erigir um belo e artístico túmulo para Inês de Castro, sua amada, cruelmente sentenciada à morte pelo pai de D. Pedro I, D.Afonso IV (1291-1357).
Como
prova de amor, Ananias não só erigiu uma capela-cenotáfio para sua amada Donaninha,
mas manteve-se fiel à sua memória até sua morte, em 26/01/1980, com quase 94
anos, quando foi ao encontro de sua amada.
ana margarida furtado arruda rosemberg
Fortaleza, 20/07/2021
REFERÊNCIAS
Exemplares do Jornal “A Verdade” de
1941 e 1942.
ARRUDA,
Clemente Olintho Távora Arruda. Comendador Ananias Arruda – Um exemplo de
vida Cristã, Política e Social. Dois tomos. Fortaleza: Gráfica
Vênus, 2001.
ARRUDA,
Miguel Edgy Távora. Relembranças – lampejos de minha memória. Organizaora:
Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg – Fortaleza: Expressão Gráfica e
Editora, 2019.
ARRUDA,
Miguel Edgy Távora. “Meu tio Ananias”. Publicado no Jornal “A Verdade”. Número
Especial em homenagem ao Centenário de Nascimento de Ananias Arruda.
Baturité-CE, 23 de maio de 1985.
JUCÁ,
Levi. Pacoti: História & Memória.
Fortaleza: Editora Premius, 2014.
https://www.ecomuseu.com.br/trilhas-de-pacoti/capela-de-jesus-crucificado/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Taj_Mahal
https://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%BAmulos_de_D._Pedro_I_e_de_In%C3%AAs_de_Castro
https://especiais.opovo.com.br/santificados/donaninha.html
http://www.fortalezaemfotos.com.br/2015/01/igreja-de-jesus-crucificado-capela-de.html
https://www.youtube.com/watch?v=VXIb2KQXFwg
https://www.youtube.com/watch?v=zukqDyZBMf8
https://www.youtube.com/watch?v=gG6dkLFdrYo
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