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Estátua de Nossa Senhor de Fátima - Baturité-CE abril de 2024 Foto: ana margarida furtado arruda rosemberg |
A ESTÁTUA DA MONTANHA
Por: Aires de Montalbo
Publicado na primeira página do Jornal "A Verdade" de 27.08.1967
Na
inauguração da imagem de Nossa Senhora de Fátima, em Baturité, no dia 13 do mês
em curso (agosto), o pequeno discurso que eu preparei e, em parte, proferi na
solenidade, estava concebido nestes termos:
Esta
imagem que aqui ficava, sobranceira à cidade, foi um voto feito pelo Sr.
Comendador Ananias Arruda, em nome da cidade em 1953, quando a imagem peregrina
de Fátima passou espalhando bençãos por Baturité.
Voto
custoso, quase irrealizável. Quatorze anos são passados desde aquele dia. O
orçamento primeiro foi muitas vezes aumentado ao cêntuplo. Milhões de cruzeiros
antigos foram enterrados aqui pelo planejador e executor da obra. Bem
empregados. Houve momento de desânimo. Eu mesmo pensei, mais de uma vez, que a
obra acabaria estacionando, sem mais, incrustada na montanha adusta. Mas, a
vontade férrea do Comendador Ananias Arruda jamais se deixou acabrunhar e
abater.
Que
desgaste de energia em cartas, telegramas, ordens escritas ao arquiteto,
contas, cheques com correção monetária, dentro de uma crescente inflação. Nada
obstou à obra. E quanta coisa não se fez aqui ! Preparo do terreno, construção
da estrada, aterros, jardinagem, via-sacra, anjos, estatuetas circundantes,
tudo.
Por
fim, a inauguração. Missa campal, mundo oficial, religiosos, sacerdotes,
colégios, massa popular. Missa ao descampado, cânticos sacros, música, fogos
discursos, após a ação litúrgica. E lá está a estátua sobre o monte, voltada
para o nascente. Meu Deus! Que maravilha vista assim de longe ! “E todas as
gerações me chamarão bem-aventurada !”
Quando
cair a noite, ela será a luz dos que caminham. Quando a aurora surgir, ela será
a alegria da vida que desperta. Quando nascer a estrêla vespertina, fulgindo no
horizonte, ela será, no seu candor de neve, a vera estrêla vesperal da vida !
Aqui,
ao pé desta formosa coluna, virão as mães cobrar forças e ânimos ; aqui virão
os jovens repensar os seus ideias; aqui virão os velhos depor a carga pesada
dos sonhos perdidos ; aqui virão sorrir e cantar crianças descuidosas,
esperanças risonhas do porvir. E a bela imagem aqui ficará, em seu pedestal
granítico, presidindo à lenta procissão dos séculos. O homem passa, mas sua
obra permanece.
Se
os homens que dois séculos e tanto fundaram esta vila, em 1764, surgida da
Missão da Palma, a vissem hoje, tal como está , que surpresa agradável !
Lá
em cima do monte, a cavaleiro da cidade, a imagem da Virgem de Fátima domina,
ao longe, o deserto, contemplando o seu povo, e aformoseando, com o seu vulto
etéreo, esse verde antiteatro de montanhas milenares. Por traz, o castelo
medieval dos jesuítas; e, pela frente, o casario acolhedor da cidade serrana.
Fica
assim bem guardada, a antiga Montemor. Fortemente abrigada à sombra de Maria !
Olhando pra o nascente, ela é a primeira a ver a aurora tímida, que lhe projeta
na fronte os primeiros clarões alvorescentes,,,
Salve Aurora Consurgens !
Senhor
Com. Ananias Arruda, podeis cantar agora o “ nunc dimittis ”!
Depois disto, que vos
resta ? Morrer . Esta obra é a coroação do trabalho de uma vida. E, deste peito
de pedra, granítico, jamais se expungirá a ressonância desta hora.
E o peregrino que sobe a montanha, e o peregrino que marcha , de longe, distraidamente, com o pensamento a vagar, - quando a avistar , lá em cima , de repente, há de por força, exclamar : - É ela! ! Ela, a mãe do ? formoso ! Ela, a fúlgida estrela matutina ! Ela a virgem dos sonhos do Eterno ! A eterna Sulamita dos cânticos de Salomão !
Como baturiteense, em nome dos que
aqui estão, em festa, em nome dos que já se foram pra Deus, em nome dos que
ainda estão por vir ao banquete da vida, Senhora, eu vos saúdo neste instante :-
ó clemente, ó piedosa , ó doce Virgem Maria!