BLOG DO MUSEU COMENDADOR ANANIAS ARRUDA (MCAA)
É um BLOG para divulgar o Museu Comendador Ananias Arruda (MCAA), inaugurado em 23 de maio de 1986, em Baturité-CE, pelo historiador Miguel Edgy Távora Arruda. Com sede na Av. 7 de Setembro 1097, o museu preserva a História / Memória de Baturité. O MCAA é privado e mantido pela Fundação C. Ananias Arruda. Está integrado ao Sistema Estadual de Museus do Ceará (SEM-CE). Entre os acervos, estão os exemplares do Jornal "A VERDADE", criado, em 1917, por Ananias Arruda.
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sexta-feira, 8 de março de 2024
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024
CAPELINHA DE DONANINHA EM PACOTI - PROVA DE AMOR
Entrevista concedida por ana margarida ao repórter do Diário do Nordeste - Diego Barbosa - que serviu de base para a publicação da matéria no Diário do Nordeste.
Olá, Ana Margarida, tudo bem?
Diego Barbosa, repórter e colunista do Diário do Nordeste.
Conforme combinado, seguem
abaixo as perguntas que desejo fazer a você sobre a história de Ananias,
Donaninha e a Capela de Jesus Crucificado, em Pacoti. Essa história deve ser
contada em minha coluna, com narrativas de amor.
1 - Por que a história da Capela
de Jesus Crucificado, em Pacoti, envolve uma história de amor? Que história de
amor é essa?
A “Igreja de Jesus Crucificado”
conhecida como: “Capelinha do Arvoredo” e “Capelinha de Donaninha”, em
Pacoti-CE, foi erigida por Ananias Arruda para sua esposa, Ana Custódio dos
Santos Arruda (Donaninha), falecida em 19.01.1941, à margem da estrada que liga Pacoti à Guaramiranga.
Donaninha
foi vítima de morte súbita – provável rutura de aneurisma cerebral congênito- durante um passeio
domingueiro, ao lado de sua filha, Rocivalda, e de algumas senhoras que, como
elas, estavam hospedadas no “Patronato Imaculada Conceição”, em Pacoti.
As grandes provas de amor descritas na história
são monumentos que homens mandaram construir em memória de suas amadas. O mais
famoso deles é “Taj Mahal”, edificado entre 1632 e 1653, em Agra, na Índia,
pelo imperador Shah Jahan para a sua mulher preferida Mumtaz Mahal, que morrera
ao dar à luz ao 14º filho.
No “Mosteiro de Alcobaça”, em
Portugal, Dom Pedro I (1320-1367) mandou erigir um belo túmulo para Inês de
Castro, sua amada, cruelmente
sentenciada à morte por D. Afonso IV (1291-1357), pai de D. Pedro I.
Como prova de amor, Ananias não só erigiu uma “capela-cenotáfio”
para sua Donaninha, mas manteve-se fiel à sua memória até seu último dia de
vida, em 26.01.1980, com quase 94 anos, quando partiu ao encontro de sua amada.
2 - Na conjuntura social do
Maciço de Baturité, quem eram Donaninha e Ananias Arruda? Como eles se
conheceram, quando se casaram e que legado deixaram para a região?
Ananias Arruda (Ananias Abnegado
Vasconcelos Arruda) nasceu em 23 de maio de 1886, em Santo Antônio do Aracatiaçu
- distrito de Sobral. Em 1891, com cinco anos de idade, chegou à Baturité com
seus pais: Capitão Miguel de Arruda e Maria do Livramento Vasconcelos Arruda, cinco
irmãos e uma irmã, sua avó materna e duas tias maternas. Em Baturité, ele
ganhou mais dois irmãos e uma irmã.
Ananias estudou as primeiras
letras com professoras particulares e concluiu o curso de humanidades em
Guaramiranga. Iniciou sua exitosa vida profissional e uma profícua atividade
religiosa e social, orientado por seu pai e pelo Vigário de Baturité, Manoel
Cândido dos Santos. Com 14 anos, em 1900, participou da fundação da
“Conferência Vicentina São Luiz de Gonzaga” e, em 1901, fundou a “Escola
Paroquial Menino Deus”.
Sua história de amor com
Donaninha começou quando o cupido, sim, l’amour,
como chamam os franceses, flechou os dois, em julho de 1911, na casa paroquial
de Baturité, onde a bela adolescente passava as férias com seu tio, o vigário
Monsenhor Manoel Cândido dos Santos.
Dois meses depois, em 17 de setembro
de 1911, sob as bençãos dos familiares, o casal de nubentes trocou juras de
amor eterno, ao receber o sacramento do matrimônio, oficializado por Manoel
Cândido, na Matriz de Baturité. Ele, um jovem fervoroso, valoroso e promissor,
de 25 anos, e ela, uma bela, meiga e piedosa adolescente, de 16 anos, selaram
seus destinos para sempre.
Desnecessário
dizer que foram felizes durante quase 30 anos, quando a morte, a “Indesejada
das gentes”, ceifou a vida de Donaninha,
precocemente, aos 45 anos. Foi um duro golpe, mas a fé retemperou suas forças e
ele continuou sua jornada terrena.
Para homenageá-la mandou
construir, além da Capelinha de Pacoti, outra em Saboeiro, na casa em que sua
amada nascera.
Ananias, com o apoio de
Donaninha, deixou para cidade de Baturité um grandioso legado, a saber: em
1917, fundou o Jornal “A Verdade”, semanário católico, mantido por ele até a
década de 1970, quando passou a ser editado por seu sobrinho, Miguel Edgy
Távora Arruda, até 1997 e, a partir de 1998 até o ano 2010, por seu sobrinho-neto Raimundo Luiz Furtado de
Arruda.
Em 1924, participou da criação
do “Círculo de Operários Católicos São José”; em
1927, por sua iniciativa e valorosa contribuição financeira foi fundada a
“Escola Apostólica dos Padres Jesuítas de Baturité”; em 1930 e 1932,
respectivamente, por sua iniciativa e contribuição financeira foram fundados: o
“Colégio Domingos Sávio”, dos padres salesianos e o “Instituto Nossa Senhora
Auxiliadora”, das irmãs salesianas.
Ananias trouxe para Baturité as
Irmãs de Caridade e fundou a “Casa dos Pobres Luiza de Marilac”; em 1941,
fundou o “Patronato Nossa Senhora do Livramento” e trouxe, para cuidar dos
pobres, a Irmã Clemência, que será, brevemente, declarada santa pela Igreja
Católica.
Em 1953, com ajuda financeira do
grande baturiteense, Luiz Severiano Ribeiro, construiu a “Maternidade Maria
Felicia Ribeiro”, para as Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo; em 1956,
ao lado da maternidade, construiu o “Hospital José Pinto do Carmo”, com ajuda
financeira de seu amigo Oziel Pinto.
Em 1956, construiu uma Igreja
dedicada à Nossa Senhora do Livramento, em Aracatiaçú, ao lado da casa em que
nascera sua mãe; em 1958, construiu com os próprios recursos e ajuda de
famílias baturiteenses, uma grande Via Sacra e um belo monumento dedicado à
Nossa Senhora de Fátima, de 9 metros de altura, que foi inaugurado em 1967.
Ananias foi nomeado prefeito de
Baturité, em 1935, e essa investidura foi, posteriormente, confirmada por
sufrágio popular; em 1938, recebeu do Papa Pio XI, o privilégio de ter uma
capela em sua residência. Essa especialíssima concessão foi renovada pelos
papas: Pio XII, João XXIII e Paulo VI até o seu falecimento.
Ananias promoveu mais de uma
dezena de “Congressos Eucarísticos” com apoio dos arcebispos de Fortaleza: Dom
Manoel da Silva Gomes e Dom Antônio de Almeida Lustosa. Em 1952 e 1958 foi
agraciado pelo papa Pio XII, com duas comendas: Cavaleiro da Ordem de São
Silvestre e de São Gregório Magno.
Ele e Donaninha não geraram
filhos biológicos, mas foram contemplados com cinco filhos: Miguel, filho de seu irmão Eurico, e quatro
irmãos (Everton, Claudemir, Rocilvalda e Luiza) que haviam ficado órfãos.
3- Qual o seu parentesco com os
dois? E que objetos/documentos guarda da época em que estiveram vivos? Eles
viveram até que ano?
Sou sobrinha-neta de Ananias
Arruda e Ana dos Santos Arruda (Donaninha). Meu nome “Ana” foi escolhido pelos
meus pais para homenageá-la.
Meu avô paterno, Raimundo
Arruda, era o irmão mais novo de Ananias Arruda e a minha avó materna, Adelina
Arruda Furtado, era irmã dele (meus pais eram primos legítimos)
Após o falecimento de Ananias
Arruda, em 26.01.1980, em Fortaleza, seu sobrinho, o historiador Miguel Edgy
Távora Arruda, criou, em 1981, a Fundação Comendador Ananias Arruda, e, em
1986, inaugurou o Museu Comendador Ananias Arruda (Museu CAA), em sua residência
de Baturité.
Além de móveis e objetos que
preservam a memória do Comendador e Donaninha, o museu contém os exemplares do
jornal “A Verdade”, a Tipografia do Jornal “A Verdade” com os tipos usados na
época, fotos dos familiares, objetos e relíquias com oratórios e imagens
sacras.
O Museu CAA preserva a capela,
que foi reinaugurada em maio de 2022, com as imagens sacras da residência do
Comendador e as imagens da Capela de Pacoti. Todas foram restauradas.
4- Qual a localização exata da
Capela de Jesus Crucificado? E como está a situação dela hoje? Lembro de passar
há alguns anos em frente e pensar que estava abandonada... Procede essa
informação? A família ainda tem algo a ver com a capela?
A Igreja de Jesus Crucificado, construída em terreno,
gentilmente cedido pelo Sr. Robert Gradvhool, localizado na estrada entre
Pacoti e Guaramiranga, teve autorização oficial do Governo do Estado e
aprovação do Sr. Arcebispo Metropolitano para ser edificada.
Foi benta e inaugurada por Dom
Antônio Lustosa, no 1º aniversário de
falecimento de Donaninha, na presença de Ananias, familiares, interventor
Menezes Pimentel, Secretários de Estado, Jesuítas, Salesianos, Salesianas,
Franciscanas, Capuchinhas, Irmãs de Caridade, associações religiosas, imprensa,
grande número de sacerdotes, autoridades, famílias de Pacoti, Baturité,
Fortaleza e Saboeiro e grande massa popular, havendo pregação preparatória de
três dias, missas, grande número de comunhões.
De Baturité, vieram sete caminhões, um ônibus e um
automóvel. Ao todo foram celebradas diversas missas até o cair da tarde na
presença de centenas de pessoas que ficavam apinhadas fora da pequena capela.
Segue a descrição física da Capela no dia de sua
inauguração.
Texto publicado no jornal “A Verdade”:
A Igreja de Jesus Crucificado foi construída por uma planta
idealizada por Ananias Arruda, que administrou os serviços de sua construção
que estiveram a cargo do pedreiro Clovis de Barros. Está localizada à margem
esquerda da estrada Pacoti-Guaramiranga, sobre uma barreira na altura de 2
metros acima do nível da mesma estrada, para a qual se sobre por duas
escadarias de marmorito que terminam num pórtico externo sobre o qual se eleva
uma bela torre assentada em colunas e desenhada por Orlando Luna Freire de
acordo com o plano projetado. Tem 5 altares. O principal que é dedicado a Jesus
Crucificado, se acha em frente ao pórtico da torre com paredes circulares que
terminam em abóbada com vitrais verdes e brancos tendo um deles a forma de
Cruz, em frente do qual está uma imagem do Crucificado tendo ao pé as imagens
da Virgem Dolorosa, S. João Evangelista e Santa Maria Madalena.
Ananias Arruda pede a todas as pessoas que visitarem esta
Igreja, uma prece a Deus pela maior glorificação no Céu de sua querida e
inesquecível consorte Donaninha Santos Arruda.
Este belo e histórico
conjunto arquitetônico, composto pelo cenotáfio, de um lado da estrada, e da
capela, do lado oposto, é tombado pelo Patrimônio Público de Pacoti. Foi
restaurado pela prefeitura de Pacoti, para o aniversário de 80 anos da morte de
Donaninha, por iniciativa do historiador Levi Jucá.
5- O que a história de Donaninha
e Ananias representa para você e, mais ainda, para a região do Maciço de
Baturité? É uma história conhecida ou precisa ser mais divulgada?
Para mim, a história de Ananias
e Donaninha é fonte de inspiração e exemplo de vida. Não só para mim, mas para
todos os seus inúmeros sobrinhos espalhados por vários Estados do Brasil. Essa
bela história de amor e fé precisa ser mais divulgada.
6- Enquanto historiadora, qual o
valor da origem da narrativa envolvendo Donaninha, Ananias e a Capela de Jesus
Crucificado? Pesquisando sobre eles, o que mais você achou? Onde estão esses
arquivos, são de fácil acesso?
Como historiadora, tenho o dever
de preservar a história deste casal e de Baturité para as gerações
futuras. O Museu Comendador Ananias
Arruda, que guarda essa história, pode ser visitado no seguinte endereço: Av. 7 de Setembro, 1097, Baturité-CE.
Horário: de terça a sábado, 9h às 17h e domingo, 9h às 12h.
Blog do Museu: https://blogdomuseucomendadorananiasarruda.blogspot.com/
YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCKthCm3tPfsu10vGU3APG9Q
7- Além de você, quais outros
parentes dos dois ainda estão vivos? Como eles enxergam a história do casal? E
o que também guardam de documentos/arquivos?
São muitos os sobrinhos,
familiares e amigos do casal “Ananias e Donaninha” que são vivos e colaboram
para a preservação do Museu, tendo à frente o Presidente da Fundação
e Diretor do Museu – Raimundo Luiz Furtado e Arruda – sobrinho-neto do
Comendador.
8- Por fim, você, feito
Donaninha e Ananias, também é católica devota? Reside também em Pacoti? E
existe um desejo maior seu para a Capela de Jesus Crucificado enquanto
estrutura - sobretudo no que diz respeito à conservação do patrimônio?
Não sou devota, como Ananias e
Donaninha, mas a família tem incontáveis devotos, incluindo padre e freira,
sobrinhos do Comendador. Por outro lado, trago comigo a força do amor de
Ananias pela Donaninha.
O amor por meu falecido marido,
que persiste até hoje, me fez escrever o livro “Confissões de Amor – Margô e
Rose”, recheado de fotos, de cartas e poemas de amor que trocamos em vida. Acho
que o meu amor por Rosemberg é tão forte quando o tio Ananias pela tia Naninha. Resido em Fortaleza, mas estou
sempre visitando Baturité e Pacoti, em
busca de minhas origens, pois nasci em passei a minha infância em Baturité.
9- Como lhe referencio na matéria?
(nome e sobrenome, idade e ocupação)
ana margarida furtado arruda
rosemberg (médica, historiadora especialista em história da arte e escritora),
73 anos, membra da Academia Cearense de Medicina, da Sociedade Brasileira de
Médicos Escritores-Capítulo Ceará e da Sociétè des Amis du Louvre.
De forma a otimizar a escrita do
material, peço que envie as respostas até amanhã (15), às 8h. Além disso, para
ilustrarmos a reportagem, é essencial termos fotos do casal, por isso peço que
envie também.
Fico no aguardo de um retorno e,
desde já, agradeço pela atenção e apoio.