quarta-feira, 27 de setembro de 2023

COMENDADOR ANANIAS ARRUDA - Por: Raimundo Luiz Furtado de Arruda

 

Comendador Ananias Arruda aos 90 anos de idade

COMENDADOR ANANIAS ARRUDA

Raimundo Luiz Furtado de Arruda

Ananias Arruda chegou a Baturité, com 5 anos de idade, emigrou de Aracati-Açu, na época município de Sobral, sua cidade natal, mas adotou Baturité como seu rincão e fez desta terra sua grande paixão. 

Tive o privilégio de conviver com o Comendador, pois com apenas cinco anos de idade, tangido por um impulso inato, me apresentei ao tio Ananias, e, a partir daí, passei a conviver com ele por alguns anos. Foi uma experiência fantástica em minha vida. Fui testemunha ocular do homem excepcional que foi Ananias Arruda. Sua capacidade de trabalho, seu tirocínio e sua visão estratégica da vida me fascinavam. 

Absolutamente nada de importante existia em Baturité, que não tivesse origem na sua incrível inteligência, a saber: com apenas 14 anos de idade, sob a inspiração do então vigário do município, Monsenhor Manuel Cândido dos Santos, participou, fundou e foi diretor da “Conferência Vicentina de São Luiz de Gonzaga”; um ano depois, com 15 anos, ainda estudante, foi indicado pelo mesmo vigário, para ser professor e, posteriormente, diretor da “Escola Paroquial do Menino Deus”, para crianças pobres.

Em 1902, concluiu seu curso de humanidades e decidiu voltar-se para atividades empresariais, que iniciara com apenas 16 anos, com sua participação nas empresas, Antônio & irmãos e Arruda & filhos, tendo como sócios seus irmãos Antônio, José e Vicente e seu pai. 

Em 1904, com 18 anos, fundou o “Círculo Católico de Baturité”, entidade cultural e de doutrinação. Homem de princípios religiosos muito fortes, teve Ananias uma profícua atividade social e religiosa e, até o fim dos seus dias, fez cumprir o preceito evangélico de vestir os nus, dar de comer aos que têm fome, dar de beber aos que têm sede e visitar os encarcerados.

Casou-se a 17 de setembro de 1911, com Ana Custódio dos Santos (Donaninha), com quem viveu por quase 30 anos em perfeita união conjugal. 

Em 8 de abril de 1917, fundou o Jornal “A VERDADE”, de circulação e distribuição inteiramente gratuita, sendo seu editor e redator-chefe. 

Em 1918, ajudou financeiramente na reforma da Igreja Matriz desta cidade. Em 1924, participou ativamente da fundação do Círculo de Operários e Trabalhadores Católicos São José e Maria Imaculada, que funciona até nossos dias. 

Foi mentor, articulador, e participou administrativa e financeiramente da construção da Escola Apostólica dos Padres Jesuítas, que viu inaugurada, em 1927. 

Consequência de sua luta, esforço e dedicação, viu fundado, em 1930, o "Colégio Salesiano Domingos Sávio” e, em 1932, o “Instituto Nossa Senhora Auxiliadora” das Irmãs Salesianas.

 Iniciou sua carreira política com a criação da LIGA ELEITORAL CATÓLICA (LEC), por orientação da cúria metropolitana de Fortaleza. Foi nomeado Prefeito de Baturité, em 6 de junho de 1935, pelo então Governador Menezes Pimentel e, em 29 de março de 1936, foi eleito por sufrágio popular com expressiva votação. 

O Golpe de Estado de 1937 decretou uma nova ordem constitucional e dissolveu os poderes legislativos passando os prefeitos a serem escolhidos pelos governadores. A propósito deste episódio, lembro-me em especial de um comentário que ouvia quando criança: por ocasião da ditadura Vargas, foi determinada uma auditoria em todos os municípios e algo interessante aconteceu em Baturité, os auditores se surpreenderam ao verificar que diversas obras da cidade foram concluídas com recursos particulares do prefeito. Por isso, não era de se estranhar, que o governador o mantivesse no cargo até sua renúncia, em 2 de maio de 1943, quando sua extrema honestidade via incompatibilidade entre administração Municipal e sua atividade comercial, por ter ganhado em licitação pública, o direito de fornecer lenha para órgãos do Estado. 

Foram inúmeras suas obras como administrador público. Cito apenas algumas: reconstrução da ponte do Pompeu; reversão antecipada das Empresas de Luz e Água, assumidas pela prefeitura; perfuração de poços profundos e construção de diversos chafarizes visando minorar os problemas causados pela seca de 1937; construção de diversos grupos escolares e postos de saúde; inauguração da “Vila São Vicente de Paula”, para abrigo de indigentes e pobres abandonados; inauguração da “Vila São José”, para operários e trabalhadores pobres; implantação da empresa telefônica da cidade; instalação da agência dos comerciários. 

Mesmo fora da Prefeitura, Ananias Arruda continuou trazendo grandes obras para a cidade, a saber: construção da “Maternidade Maria Felícia Ribeiro”; do “Hospital José Pinto do Carmo”. 

Ananias foi mentor e construtor da “Via Sacra Pública”, com 365 degraus; arquitetou a construção da “Escola de Artes Donaninha Arruda”; participou ativamente da construção do prédio do “Colégio Comercial”. 

Em 1967, teve um de seus inúmeros sonhos concretizados, a colocação da majestosa Imagem de Nossa Senhora de Fátima, no topo da serra a abençoar a cidade.

Em 1952, foi agraciado com os títulos de Cavaleiro das Ordens de São Gregório e São Silvestre, conferidas por sua Santidade o Papa Pio XII. 

Era assombrosa sua capacidade empresarial e comercial. Sempre que ia à Europa trazia ideias novas, como: modernas técnicas na fabricação de cerâmicas ou beneficiamento de cal. Seu amor pelo trabalho o tornou um homem rico. 

Foi jornalista, banqueiro, fazendeiro, agropecuarista, industrial, exportador e comerciante de sucesso, mas tudo que adquiriu em sua vida tinha um propósito, ajudar aos mais necessitados. 

Foi, talvez, o único brasileiro a doar parte de suas terras para agricultores pobres, fazendo a tão propalada reforma agrária. Tudo o que adquiriu em sua vida foi, paulatinamente, doando para a Igreja, para entidades filantrópicas ou para os pobres.

Ananias morreu, modestamente, em 26 de janeiro de 1980. Ananias Arruda viveu sob o signo da perseverança, do amor ao próximo e, principalmente, da paixão avassaladora que tinha por esta terra. Por isso, nós, seus parentes e amigos, não podemos esquecer o grande legado que o Comendador deixou para sua família e, principalmente, para o povo de Baturité, povo amigo e hospitaleiro do qual os ARRUDA têm o excepcional privilégio de fazer parte.

Muito OBRIGADO!

Baturité-CE / 2011

Discurso proferido por ocasião da Convenção “Os Arrudas de Baturité”


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