sábado, 24 de julho de 2021

EDITORIAL E NOTAS BIOGRÁFICAS - JORNAL "A VERDADE" DE 26/01/1941

 


                    A VERDADE

                                  Fundador, Proprietário, Diretor e Redator-Chefe Ananias Arruda

ANO XXIV  SEMANÁRIO CATÓLICO Baturité, 26 de Janeiro de 1941 LITERÁRIO NOTICIOSO  Nº  1253 

Transcrição - Ipsis litteris 

"A VERDADE" COBRE SE DE PESADO LUTO E DEDICA TODA ESTA EDIÇÃO À MEMORIA DA QUERIDA E NUNCA ESQUECIDA CONSORTE DO NOSSO REDATOR CHEFE, ANANIAS ARRUDA, DONANINHA SANTOS ARRUDA FALECIDA INESPERADA E PIEDOSAMENTE E CONFORTADA COM OS SACRAMENTOS DA IGREJA, NA MANHÃ DE DOMINGO ULTIMO, EM PACOTI CAUSANDO SUA MORTE GRANDE CONSTERNAÇÃO NÃO SÓ AO SEU EXTREMEDICO ESPOSO, DEDICADOS FILHOS QUERIDO PROGENITOR, IRMÃOS E PARENTES, COMO À POPULAÇÃO TOTAL DESTA CIDADE, AO CEARÁ TODO, ALIÁS AO BRASIL, DONDE TEM VINDO DE NORTE A SUL INUMEROS TELEGRAMAS E CARTAS AEREAS DE CONDOLENCIAS AO SEU DESOLADO ESPOSO E ENLUTADA FAMILIA."


EDIÇÃO COMPLETA DEDICADA A DONANINHA

Transcrição Ipsis litteris

Editorial Jornal "A Verdade" 26/01/1941  

“Minha Donaninha"

    "É com o coração ferido e sangrando de dor, com a alma mergulhada em imensa tristeza com os olhos jorrando torrentes de quentes e sanguinolentas lágrimas vindas da alma e do coração, lágrimas de sangue, símbolo do verdadeiro e puro amor conjugal, que pego da pena para escrever neste jornal que também é símbolo do amor e do sacrifício, o necrológio de minha idolatrada e nunca esquecida Donaninha, por Deus arrebatada súbita e inesperadamente, na manhã de domingo último em Pacoti, levando Jesus Sacramentado no coração e deixando o seu querido Nias  ausente e distante imerso em indescritível saudade e cruciante sofrimento. 

    Depois de ter recebido na capelinha do Patronato da Imaculada Conceição, em seu coração, com piedade e fervor o meigo Jesus Sacramentado o que fazia todos os dias desde creança e de ter assistido ao Santo Sacrifício da Missa, na Matriz daquela cidade serrana, passeava ela em companhia de sua extremecida filhinha Rocivalda e de algumas senhoras que veraneavam no dito Patronato pelos campos verdejantes e floridos dos ferteis sítios vizinhos da cidade quando Deus a levou para o ceu, livrando a das agonias da morte e das torturas dos moribundos.

    Aspirava ela o ar puro dos campos como pura e candida era a sua alma ; contemplava as belezas da natureza punjante e encantadora semelhantes ao seu corpo belo e encantador ; fazendo as grandezas de Deus e de Maria Imaculada ; pensava nas almas mui querida que prezava de importante na grande missão religiosa, com Cristo no peito e riso nos olhos terminou sua brilhante missão na terra e passou a gozar no ceu a presença de Deus para sempre.

    Tombou à margem da estrada Pacoti-Guaramiranga sendo amparada pela filhinha que a acompanhava, quando o seu casto corpo cambaleando ajoelhou-se como que adorando a Deus que a arrebatava. Momentos depois (ilegível)? o sarcerdote (ilegível)? e a ungiu com (ilegível)? óleo dos morimbudos (ilegível)? assim confortada com os sacramentos da Igreja que a mercê de Deus fruto de sua vida pura mortificada e santificada, pela prática de muitas virtudes cristãs.

    A noticia de sua morte ecoou dolorosamente não só em Pacoti onde faleceu, como nesta cidade onde residia e era estimadíssima e em todo Ceará, aliás em todo nosso glorioso Brasil.

    Morreu como viveu – santamente.

    Dentre as muitas virtudes que em vida praticava com ardor, destacavam-se a pureza, a humildade, a caridade e a piedade.

    Sua pureza chegou aos paroxismos da perfeição; sua humildade confundia e edificava ; sua caridade não tinha limites e sua piedade era encantadora. 

    Cerca de 30 anos suportou com paciência edificante torturantes dores de cabeça que lhe serviram de crisol purificador de suas humanas ainda que pequenas imperfeições.

    A sua dedicação ao caro esposo chegava às raias do exagero; sua amizade ao seu idolatrado progenitor, filhos adotivos e irmãos era inexcedível ; aos parentes consanguineos e afins amava e servia em todas as necessidades ; aos pobres amparava com generosidade. 

    Não podia ela ver ninguém sofrer que não aplicasse um lenitivo para diminuir ou exterminar o sofrimento ou a dor. Do seu amigo era o amparo, o conforto, a alegria e a felicidade.

    A sua santidade tem sido aclamada por todos. O seu corpo apesar de ter ficado insepulto cerca de 28 horas e de ter vindo da serra em caminhão, conservou-se risonho. As suas glorificações tem sido gerais.”

 




           O corpo da saudosa e inesquecível Donaninha no quarto de sua 

residência, nesta cidade, após a sua chegada de Pacoti


                                           “NOTAS BIOGRÁFICAS”

Transcrição Ipsis litteris

“Ana Custodio dos Santos, se chamava ela até o dia do seu casamento, quando passou a chamar-se Ana Santos Arruda ou Donaninha Santos Arruda.

Filha do honrado fazendeiro Custódio Candido dos Santos, residente em Saboeiro e de Agueda Braga dos Santos de imperecível memória, nasceu ela na cidade de Saboeiro a 31 de julho de 1895 tendo sido batizada poucos dias depois pelo imortal Monsenhor Manoel Cândido dos Santos, seu tio paterno que foi seu padrinho.

Depois de ter estado na Escola Primária de Saboeiro, cursou o Colégio da Imaculada Conceição de Fortaleza, durante o ano de 1910, não tendo continuado os estudos por ter se casado, no ano seguinte quando completado 16 anos de idade.

O nosso feliz casamento aconteceu a 17 se setembro na hora da missa sendo oficiante Monsenhor Manoel Cândido.

Em 1925, ela e eu tivemos a felicidade de visitarmos 6 paises da Europa, inclusive a capital do Catolicismo: a Terra Santa, Síria e Egito, viagem que nos proporcionou grandes ensinamentos históricos e Bíblicos e fez aumentar a nossa fé e a nossa piedade.

Em 1921, uma heroica mãe cristã, à hora da morte nos entregou 4 pequenos filhinhos, os quais depois de alguns ânos de Colégio, vieram para a nossa companhia sendo todos por ela tratados, educados e guiados, com carinho, amôr e dedicação maternais – Clodomir Comarú, hoje casado com Mirinha Medeiros Comarú, auxiliar de importante firma holandeza de Fortaleza; Ewerton Comarú, empregado de conceituada firma americana da capital; Rocivalda Comarú, Inspetora de Ensino Normal, junto ao Colegio N. S. Auxiliadora e Luizinha Comarú, Professora do G. Escolar Monsenhor Manoel Candido, desta cidade.

Além desses, nos foi entregue em 1932, mais um filhinho em tenra idade, o pequeno Miguelzinho, nosso sobrinho, órfão de pai e mãe, a quem ela dedicou todo o seu afeto é atualmente aluno do Colégio Salesiano Domingos Sávio.

Em 17 de Setembro de 1936 celebramos com alegria e solenidade as Bodas de Prata do nosso venturoso consorcio havendo naquele dia a inauguração de uma estatua de Monsenhor Manoel Candido dos Santos, justa e sincera homenagem que prestamos ao nosso querido tio, no mesmo dia celebradas 25 Missas em ação de graças e em comemoração aos 25 anos decorridos de nosso casamento, causando-lhe isso conforto e alegria.

Quando da morte rápida de sua idolatrada mãe, em agosto de 1922, na pouca idade de 45 anos, a mesma em que ela faleceu, Donaninha mostrou-se a mulher forte do Evangelho e tornou-se mãe amável de seus 7 irmãos e amparo de seu querido papai.

Ao Pai Arruda e a Mãe Mento, como carinhosamente chamava os meus idolatrados papais, falecidos em 1923 e 1932, prestou ela durante a vida dêles e as horas de suas mortes, filial assistência e especial dedicação.

Assim procedeu ela com meus irmãos que faleceram em 1917, 1931 e 1935 – Vicente, Eurico e Antonio Arruda.  

Em outubro de 1929, o Rvmo. Padre Candido Mendes, Provincial dos Jesuitas, em Portugal e atual Provincial no norte do Brasil, vindo da Europa a esta cidade, agraciou generosamente a mim e a Donaninha, com o título grandioso de irmãos da Companhia de Jesus, cujo original em latim e cujas vantagens em portugues vão transcritas nesta edição.

Nas terriveis e constantes lutas religiosas e políticas que tenho sustentado, Donaninha participou em todas, sofrendo vigorosamente comigo, animando-me, confortando-me nos momentos críticos e encorajando-me para marchar com denodo.

A Ordem Terceira de S. Francisco, a varias congregações e Associações religiosas que fazia parte, Donaninha prestou relevantes serviços, dando bons exemplos de dedicação e de bondade, e trabalhando pelo seu aperfeiçoamento.

Da Escola Apostólica, dos Colégios Salesianos Domingos Sávio e N. S. Auxiliadora desta cidade, do Patronato Imaculada Conceição, de Pacoti, foi grande amiga e admiradora.

Deixou ela o venerável  ? pai Custodio Candido dos Santos e os seguintes irmãos Manoelito Candido, prefeito de Saboeiro, casado com Raimunda F. Candido dos Santos, . ? estadual, em Saboeiro, casado com Roselia C. dos Santos, Francisco Candido dos Santos, escrivão na mesma cidade, casado com Altamira dos Santos, Mariquinha dos Santos, Cenobe de Oliveira, consorte do amigo Francisco Chagas de Oliveira agricultor ? , Chantal Santos da Silva, casada com nosso amigo Gustavo da Silva, criador em Saboeiro. São suas tias: Candida Braga, residente em Saboeiro e Custodia Braga, residente em São Mateus.

            Á minha idolatrada e inesquecível Donaninha, cujo desaparecimento me feriu profundamente o coração e amargurou-me imensamente a alma, causando-me abundantes e incontidas lagrimas que embalsando o meu ser e o preservam do esquecimento de sua santa memoria, o Tributo da eterna veneração do coração sangrante de saudades.

Do seu querido

Nias”

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